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Ser cuidador

24.07.24

Pela primeira vez vou escrever sobre este tema que é bastante pessoal.

A minha avó vive com os meus pais. Já tem uma idade avançada e com o tempo os problemas de saúde começam a aparecer. Na Páscoa, apareceu-lhe uma infeção urinária causada por uma reação negativa do seu organismo à troca de um medicamento. Começou com diarreia e falta de apetite e terminou com uma infeção, com uma longa noite no Hospital de Gaia onde demorou 9 horas para ser atendida. Teve o azar de ter pulseira verde. A minha mãe acompanhou-a e ficou as 9 horas na sala de espera sem dormir (ao mesmo tempo, uma outra senhora desistiu às 02h da manhã com o seu pai, porque tinha de trabalhar no dia seguinte e o senhor foi doente para casa). Pior que isso, foi reparar no desprezo e arrogância do pessoal médico/auxiliar que até desvia o olhar para não encarar os utentes. Pode haver gente para atender e estarem atolados de trabaljho, mas não custa nada sorrir, ser eeducado, simpático, responder às pessoas quando lhe perguntam a situação...

 

A infeção tirou-lhe o andar e tornou a minha avó 100% dependente. Se em Junho, já conseguia ir pelo próprio pé, com as escaras agora apareceu uma erispela. Mais uma contrariedade e novamente uma situação de 100% de dependência física. Foram muitas as noites mal dormidas nas últimas semanas, com preocupação e mau estar noturno da minha avó.

A minha mãe está em pré reforma e felizmente tem tempo para cuidar da minha avó. A casa tem condições e não lhe falta nada. A própria segurança social dá incentivos financeiros aos cuidadores (com milhenta burocracia associada) e o SNS disponibiliza enfermeiro ao domicilio.

É claro que queremos o melhor para os nossos e ficamos incomodados quando os vemos com dores ou mal. Se por um lado o amor e carinho familiar prevalecem, por outro preocupa-me o desgaste físico e emocional da cuidadora, a minha mãe.

Acho que só quem passa por isto é que dá valor à exaustão que provoca.

Apesar de inconsciente, os mais velhos tendem a descarregar a sua frustração de dor e de dependência nos que lhe são próximos, seja com birras, com palavras ofensivas ou com um dramatismo para ter a atenção. Por muito amor que haja, a saúde mental sai afetada e chega-se a um ponto em que é muito dificil manter o equilibrio.

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publicado às 10:17


23 comentários

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De Cláudia a 24.07.2024 às 10:30

Como te compreendo. A 100%.

Com o meu avô foi igual, mas ele infelizmente já não podia mesmo vir para casa, pois a minha mãe não tinha forças sequer. Mas também cuidou dele até ao fim e as nossas visitas (diárias dela, semanais minhas) eram sagradas.

E sim, preocupa-te mesmo com a tua mãe, porque é um desgaste brutal.

E sim, também tivemos essa parte do desgaste emocional até lhe chamaria chantagem emocional, por parte de quem está a ser cuidado.
Parece que (Deus me perdoe) às vezes se fazem mais de coitadinhos.

Ainda me lembro, uma vez, o meu avô a chamar a minha mãe, com uma enfermeira lá em casa... A minha mãe repreendeu-o e ele depois explicou que não queria dar trabalho à Srª e que a minha mãe é que tinha obrigação... Mas a Srª é que estava a ser paga!

Enfim, é tentar ter mesmo muitaaaa paciência mas é de louvar que vocês possam cuidar dela a 100% e não a tenham que colocar num lar (que eu nunca concordei, nem a minha mãe, mas não dava mesmo para ter o meu avô em casa). São muito melhor tratados por nós.

Beijocas
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De Helena a 24.07.2024 às 11:00

Bom dia, li o teu post, realmente deve ser uma situação difícil, principalmente para a tua mãe. O que podes fazer é ir ajudando a tua mãe para ela ter momentos para também descomprimir um bocado e aliviar a sua situação. Boa sorte e coragem!
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De O ultimo fecha a porta a 24.07.2024 às 20:54

Até para sair de casa é um filme para a minha mãe. Se demora mais um pouco até nas compras, é logo o fim do mundo, com alguma chantagem emocional. Muito difícil de gerir porque são pessoas familiares e só queremos o bem delas...
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De Helena a 25.07.2024 às 11:08

Não deve ser fácil! Aguenta firme!
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De Tintinaine a 24.07.2024 às 12:33

Vivi essa situação com os meus pais. Primeiro ele com um AVC profundo com um prognóstico de um mês de vida ou menos e só morreu 13 meses depois.
A minha mãe entrou em paranóia, depois disso e acabou acamada, situação que se estendeu ao longo de 4 anos e com Alzheimer pelo meio.
Uma tristeza!
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De imsilva a 24.07.2024 às 13:18

Uma situação difícil e infelizmente muito real com o envelhecimento do nossos. Já passei por isso, mas tenho de confessar mais leve porque a minha mãe, com cancro, só esteve em casa 15 dias. Já nos questionavamos sobre como iria ser. Sabíamos que não iria ser fácil. Infelizmente, não foi preciso mais nada.
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De O ultimo fecha a porta a 24.07.2024 às 20:52

Por muito pouco politicamente correto que seja, talvez não seja pior assim.
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De Sofia a 24.07.2024 às 18:42

Último, o estado dá apoios ridículos! Não, correspondem às necessidades dos doentes e cuidadores. Atenção à tua mãe, se já está a dar sinais de cansaço físico e mental é aguir agora. A exaustão dos cuidadores é uma realidade e a partir do momento, que ultrapassam o ponto crítico é difícil sair dele. Deves falar com os teus pais e tentarem encontrar um lar para a tua avó e por exemplo irem buscá-la ao fim de semana. Bjs
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De O ultimo fecha a porta a 24.07.2024 às 20:51

Não é assim tão fácil, ela cismou que não quer ir para um lar devido às notícias de maus tratos que sistematicamente chegam. Não está a ser nada fácil...
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De Sofia a 24.07.2024 às 21:20

Eu sei o drama! Tive o meu pai e tios tiveram o mesmo problema com a minha avó. E tinha excelentes condições e a minha tia trabalha lá.
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De O ultimo fecha a porta a 24.07.2024 às 21:33

ela já ameaçou que não quer ir mesmo sem ninguém ter tocado nisso. Como a Claudia descreveu é quase uma chantagem emocional. A ver se este problema do pé passa e ela arrebita para dar algum descanso. Sei que não é politicamente correto escrever isto.
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De Sofia a 24.07.2024 às 21:42

Não é quase! É mesmo chantagem emocional, que fazem. A minha avó vivia sozinha, por preguiça alimentava-se mal. Embora uma das minhas tias vivesse perto, tinha de trabalhar. Teve 2 dias caída, por fraqueza apanhou uma infecção gereneralizada e quase não escapou. O meu pai foi louco para cima, uma viagem para esquecer! Pensava, que não ia chegar a tempo... Isto tudo por teimosia.
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De Pedro Coimbra a 25.07.2024 às 03:27

Felizmente os meus pais ainda são autónomos.
Mas estão constantemente acompanhados por uma empregada.
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De Maria Araújo a 26.07.2024 às 10:27

Sei, de certa forma, como é.
Fui cuidadora, mas os meus familiares eram novos.
Espero que tudo se companha.
E cuidado com a mãe.
Ela precisa de ajuda.
As melhoras para a avó e que a mãe tenha força, porque não é nada fácil.
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De Just_Smile a 26.07.2024 às 11:39

Um conselho de quem passou por isso, salvaguarda a tua mãe, arranjem forma de ter um momento dela e de conseguir espairecer. A minha mãe foi recentemente diagnosticada com Alzheimer precoce e ninguém me tira da cabeça que foi de ser cuidadora da minha avó durante anos (apesar de serem apenas 4 meses por ano...). A degradação da minha mãe foi gradual, mas desde que a minha avó faleceu (há 1 ano), tudo se agravou muito rápido... Protege a tua mãe o mais que consigas, eu não consegui...
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De Sofia a 04.08.2024 às 19:48

Lamento, Just!
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De Isabel Amaro a 26.07.2024 às 12:13

Eu trabalho num lar..é uma coisa que amo..mas há dia de exaustão.. mas também ja tive no hospital 10h para ser atendida e ate partilhei a experiência no meu blog.
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De s o s a 27.07.2024 às 00:00

sempre, e todos os dias existem pessoas nessa situaçao (familiar) de cuidadores.

Situaçao de 24 horas permanentes, todos os dias.

O que inevitavelmente afeta a saude mental.

O tema continua em discussao, lentamente vai-se melhorando o apoio, mas o acertado é nao serem os familiares os cuidadores.

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