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Num destes fins de semana, fui até o Alto do Camouco. No caminho encontramos o marco dos 4 concelhos, onde se cruzam os concelhos de Gondomar, Santa Maria da Feira, Castelo de Paiva e Arouca num único ponto.
No Alto, fiquei alguns minutos a contemplar as urzes. São as flores roxas que populam nas serras nesta zona da Beira Litoral. Simbolizam a montanha, a cor e a Primavera. Que bonito e que tranquilidade nos traz.
Aqui há umas semanas chamou-me a atenção a capa de uma revista semanal que mostrava as cidades no futuro, com uma montagem de Lisboa. Realçava-se o verde, preveniente de árvores para fazer sombra tendo em conta as vagas de calor.
Em 2020 e 2022, critiquei o arbocidio (foto original retirada deste link) e aversão a árvores que os arquitetos paisagistas das Câmaras Municipais têm. Na altura, dei vários exemplos de que para fazer ciclovias e outras obras de regime se sacrificavam árvores sem critério. Hoje, vemos as cidades áridas, desérticas, com betão e sem espaços verdes. Não existem árvores, seja porque não fica bem nas obras, porque podem cair, porque não dão trabalho aos empreiteiros, porque isto ou porque aquilo.
Referia-me em concreto a Espinho, pela proximidade. A cidade continua nua, cada vez com menos verde (até no espaço da feira semanal as cortaram!) e já passaram 3 presidentes de Câmara de dois partidos diferentes. Nenhum privilegiou o ambiente, os espaços verdes, a sombra, a oxigenação da cidade ou a correção de erros passados. Um advogado, um arquiteto e uma professora de Fisico-Química (está há apenas meio ano, mas já é tempo para mostrar trabalho...)
Assim, é irónico, ver que as sugestões de futuro são ... as árvores para purificar e fazer sombra, como aliás sempre foi assim no passado.
Em Fevereiro de 2020, ainda antes do covid, tinha partilhado que uso diariamente o saco do pão quando vou ao supermercado comprar o meu lanche para o dia seguinte.
Acho um desperdício de papel, usarmos um saco novo para depois ir para o lixo. Pago o mesmo, mas acho ambientalmente mais sustentável.
Esta semana, a senhora da caixa interpelou-me para me dar os "Parabéns" pela minha atitude, pois só há dois clientes que levam o saco de casa. Agradeci e respondi que tentava dar o meu contributo para um futuro melhor
.
Já que se taxa tudo e mais alguma coisa, inclusive agora as embalagens de take away que as pessoas compram para evitar o desperdício de comida levando os restos para casa, porque não dar um desconto a quem leva o saco do pão de casa?
Porque na verdade, no meu caso estou a pagar por um "extra" que não estou a comprar.
Esta semana precisei de me deslocar a um serviço na cidade. Um calor abrasador e com o estacionamento todo pago nas ruas principais, tive de estacionar um pouco mais afastado.
Uma rua que outrora tinha árvores, que além da questão ambiental, faziam sombra, deram lugar a uma ciclovia. Asfalto e cimento.
Em 2020, quando ainda estávamos atordoados pela pandemia, a Câmara cometeu um arboricídio. Comentei o seguinte:
Para fazer a obra de "regime" e inaugurá-la a tempo das eleições autárquicas, a Câmara decidiu abater todas as árvores da Rua 19, o já chamado "arboricídio" em nome de uma ciclovia. A notícia do Público é desgastante: "árvores colidem com ciclovia e Câmada manda arrancá-las". Levou-me refletir: se queremos cidades mais verdes, qual o custo em termos de segurança, localização e sacrifícios que é preciso fazer para ter as ciclovias? Até que ponto a sua localização é exequível para as pessoas circularem em segurança? Até que ponto faz sentido "plantar" no meio da cidade e do caos do trânsito ciclovias de poucos metros? Já morreu pelo menos uma pessoa? Em Espinho, custou a vida a dezenas de árvores saudáveis.
Nas eleições, o partido que tomou esta decisão foi corrido da Câmara. Não sou arquiteto paisagista, mas sinto duas coisas: i) aversão à presença de árvores nas novas empreitadas públicas; ii) a aversão dos políticos que aprovam a ausência de verde.
Nestes dias de calor, senti falta dessa sombra. Uma ciclovia parece valer mais que sombra e oxigénio.
Ontem, em zapping cruzei-me com um programa da RTP que estava numa cidade a fazer um direto de um parque municipal. Relva (seca devido ao calor) e sem árvores. Um parque que mais parecia um descampado.
Esta semana, fui a uma gelataria, pedi uma bola de gelado e à pergunta "copo ou bola", perguntei se poderia ser num copo de vidro pois iria consumir no estabelecimento.
Foi-me dito que teria de consumir mais, ao que respondi que era para lhes poupar o desperdício do copo de papel. Mas não.
Num altura em que se fala de aumento do preço das matérias primas, encarecimento do papel, poupança de recursos, sustentabilidade e economia circular, procuro pôr em prática os 3 "R"s mas nem todos estão para aí virados.
Este mês de Janeiro foi surpreendentemente quente. Já no ano Novo andávamos de manga curta, com muita gente a tomar o primeiro banho do ano porque o tempo assim o convidava.
E essa surpresa é uma má surpresa.
Primeiro porque não respeita a ordem natural do clima, segundo porque está a colocar o país numa situação de seca com imagens atípicas das nossas barragens secas, terceiro porque são já várias disfunções climáticas num espaço muito curto de tempo e quarto porque são os reflexos do aquecimento global (fenómenos extremos climáticos com tendência para ficar mais quente).
Ao longo do tempo está-se a confirmar.
Da parte política, a resposta que nos prometem é encarecer o preço da água. Será que vai reduzir o desperdício? Será que quando uma conduta rebenta e se liga para os serviços municipais estes irão ser mais rápidos na resposta e na reparação? Como sempre, vai afetar os mais pobres e as regiões mais desertificadas.
Por outro lado, estamos a assistir em Ovar a um abate massivo de pinheiros na mata de Maceda. Ainda não percebi o argumento, mas a CM Ovar desresponsabiliza-se. Se Salvador Malheiro tivesse tanta vontade em defender o ambiente como está nas tricas do PSD, talvez já se teria acabado com essa aberração.
Honestamente parece que às vezes em vez de se andar para um país mais verde, tomam-se decisões avulsas e há sempre alguém que ganha com estes atentados. Leio que vai ser para construir um campo de ténis, quando há um enorme complexo às moscas no concelho vizinho de Espinho.
O que saiu de significativo da COP - conferência do clima? Praticamente nada de relevante.
É com sensação de deja vu pelos grandes lideres mundiais: dedicam tempo da sua agenda para debater o clima, uns sorrisos (e umas sonecas) para as fotos, uns compromissos vagos e ... no dia a seguir já se esqueceram de tudo. Umas espécie de hipocrisia de liderança.
Quatro aspetos chama a minha atenção:
- Acção de todos
No problema que é o aquecimento global e as emissões poluentes, não basta só cobrar aos grandes lideres mundiais.
Tem de ser uma ação conjunta, cada um na sua medida.
Na minha vida pessoal, procuro reduzir o consumo (levo sempre ao supermercado o saquinho de rede para a fruta, vou ao ginásio a pé, faço a separação do lixo). As empresas têm de fazer o seu papel seja no transporte, na gestão de resíduos, no tratamento das suas águas residuais, nos gases emitidos, por exemplo.
- Taxas
Numa espécie de descargo de consciência e para aumentar as receitas públicas para compensar outros gastos, criam-se as taxas e taxinhas sobretudo nos carros e nos combustíveis. Pouco efeito têm a não ser deixar-nos mais pobres.
- Grande interesses empresariais
Ora aqui está o problema. Boas intenções dos lideres pode haver, mas quando se mexe nos interesses fiscais das grandes empresas, no argumento da geração de emprego e no prejuízo do imposto cobrado sobre o rendimento, aí recua-se.
- As cidades
Fala-se muito do papel das cidades e na pandemia falou-se muito do factor proximidade até no sentido de evitar deslocações. Mas vejo precisamente o contrário: cada vez mais centralização. Fecham-se serviços essenciais no Interior obrigando as pessoas a deslocações evitáveis. Até nos supermercados, se vê os quatro e aos cinco todos na mesma estrada, havendo uma concentração numa determinada zona da cidade, obrigando as pessoas a deslocações (de carro).
Posto isto, a conclusão é que se anda sempre a discutir o mesmo, mas pouca ação.
Hoje vou falar de 3 casos de ciclovias e como elas podem ser vistas.
Será sobre 3 cidades diferentes, de 3 cores políticas diferentes e não sou eleitor em nenhuma delas.
Ponto prévio: não sou urbanistas, nem arquiteto, mas procuro ver as coisas com bom senso.
Sou um defensor de ciclovias e equipamentos públicos que propiciem uma vida mais saudável, ativa e ecológica. Já o manifestei várias vezes e procuro fazer por isso.
Lisboa
Presidida pelo PS.
O caso que menos conheço, mas foi onde morreu uma jovem de 16 anos ao circular na ciclovia cumprindo todos os requisitos de segurança (avançou no sinal verde do semáforo). Deu-se pouca importância ao caso porque é o que convém.
Dá para refletir sobre até que ponto há a prevenção e informação necessária, bem como a localização das ciclovias. Será que colocá-las nas ruas mais movimentadas das cidades é a mais segura?
Porto
Presidida por um independente
Na 6ªf precisei de passar pela Rotunda da Boavista. Ao sair para o Bom Sucesso, surge do nada linhas contínuas e logo a seguir ao desvio e "camuflados" pelo trânsito uns pinos a marcar o começo de uma ciclovia. Andam-se uns 300 metros e acaba a ciclovia.
Como condutor, além da confusão ao sair da rotunda de várias faixas, esse bloqueio dá origem a acidentes, buzinadelas e insegurança.
Fiquei sem perceber a necessidade de colocar ali aquela faixa amarela sem ligação a lado nenhum. Parece uma ciclovia plantada do nada numa rua movimentada em que a segurança antes e depois não é assegurada apenas para constar nos boletins municipais.
Quem conhece a zona, sabe que na rua por trás da rotunda junto ao cemitério de Agramonte é muito mais tranquila e "ciclável".
Espinho
Presidida pelo PSD
Para fazer a obra de "regime" e inaugurá-la a tempo das eleições autárquicas, a Câmara decidiu abater todas as árvores da Rua 19, o já chamado "arbocídio" em nome de uma ciclovia. A notícia do Público é desgastante: "árvores colidem com ciclovia e Câmada manda arrancá-las".
Em 2020, isto aconteceu - ver aqui. Levou-me refletir: se queremos cidades mais verdes, qual o custo em termos de segurança, localização e sacrifícios que é preciso fazer para ter as ciclovias?
Até que ponto a sua localização é exequível para as pessoas circularem em segurança? Até que ponto faz sentido "plantar" no meio da cidade e do caos do trânsito ciclovias de poucos metros? Já morreu pelo menos uma pessoa? Em Espinho, custou a vida a dezenas de árvores saudáveis.
Até que ponto uma fita para cortar em véspera de eleições prevalece sobre o bom senso.
No Facebook, vi esta foto tirada esta manhã:
Fiz o mesmo post no dia 30 de Julho de 2019.
Hoje estamos a 23 de Agosto de 2020.
Ou seja, conseguimos adiar em 23 dias o nosso défice de sustentabilidade. Seria uma boa razão se fosse algo permanente, mas sabemos que foi devido à paragem do COVID. Talvez esta seja a única coisa boa desta paragem massiva de todo o mundo.
Mantenho o que escrevi há um ano:
Se lá por fora, as políticas de grandes líderes como Trump e Bolsonaro não defendem o meio ambiente, por cá também temos problemas. Nos últimos tempos tem-se falado muito na poluição do Rio Vizela e do Rio Ferreira. Eu próprio já denunciei o regato que passa em Espinho. O que mudou? Pouco ou nada.
Da minha parte, insisto nos comportamentos mais saudáveis: andar a pé, poupar água e eletricidade (na verdade pesam no orçamento) e fazer a separação do lixo.
Pela primeira vez na minha vida e acho que na maioria das pessoas, assistimos a um cenário mundial em que "pára tudo!".
A população é mandada para casa sem saber até quando e com tudo suspenso.
Ponho-me a refletir em quão frágil é o ser humano. Após tanto inovação, automatismos e tecnologia, como é que um vírus faz parar o mundo, lança o pânico e não há solução.
Acho que agora, muitos de nós vamos dar valor a pequenas coisas como a liberdade (porque não?), a importância de ter uma horta em casa e dos defeitos da globalização.
Não dramatizo e vou continuar a ir para o trabalho com normalidade (enquanto não houver ordens superiores em contrário). Naturalmente os cuidados vão ser redobrados.
A propósito, há uma boa notícia: os níveis de poluição baixaram muito no último mês. A paragem de muitas fábricas na China e a redução de voos tornaram o planeta mais limpo. É isto é estranho e paradoxal.
PS: Nem vou comentar o pessoal universitário (!!!) que foi para a praia!
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